quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Cidadela

Um curta que deve ser visto pela animação, pela música, pela história e pelo mais de bom que se busque em arte cinematográfica.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Oran e Porto Príncipe


Foto: ONU/ Divulgação: uol

Ouço, vejo, penso e estremeço com as notícias do Haiti, sem consegui me desligar do enredo de “A Peste”, lido nos dois primeiros dias deste ano. A velocidade da leitura, nesse caso, se deveu menos a minha voracidade de leitor e mais à perícia de Michel Camus na condução da narrativa, produzindo em quem a lê a mesma tensão de quem está aprisionado num lugar açoitado pela “peste”.

Narrado em terceira pessoa, embora pudesse ter sido feita em primeira, como se revela no epílogo, “A Peste” tem a particularidade de ser um relato de homens, quiçá porque seja predominantemente de varões a autoria das bestialidades do nazismo sobre a França de outrora, de que o livro seria uma parábola, como bem poderia sê-lo da não menos cruel a calculada pauperização de muitos povos, de há muito e até à nossa geração, entre eles o Haiti.

O cenário é descrito como uma cidade comum que não passaria de uma “prefeitura francesa na costa argelina”, por onde as personagens evoluem da cínica indiferença à desesperada ação coletiva solidária, ao sabor das ondas da morte que engolfam a todos, começando pelos ratos e chegando aos notáveis, como políticos, juízes e clérigos.

Envolvente e irresistível, a peste verga a gente para o bem e para o mal. À medida que avança, dessacraliza ritos e brutaliza pessoas, enquanto a outras humaniza mais funda e definitivamente. Após sua sinistra jornada, a peste vai embora tão arbitrariamente quando chegou e deixa sobre Oran a dúvida, ameaça ou certeza com que Camus encerra a obra: “Um dia acordará os seus ratos e os mandará morrer numa cidade feliz”.
Oran? Haiti? Aqui?


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

17. CÓSMICO - Avesso

Dado à luz na caatinga, acabei dado a penumbras e nevoeiros. Sol, pra mim, evoca a seca de “70” narrada com amarguras e a do início dos anos 80, vivida na plenitude da aridez, com água regrada até pra beber e cozinhar, que dirá pra tomar banho... Céu azul e horizonte aberto, quiçá por isso, ao invés de encantamento, me dão tremor e enfado. Gosto mesmo é de nuvens gordas e de céu pardo, desses que quase se toca com a mão e que logo se derrama em aguaceiro, ao som de trovões graves e agudos, acompanhados de coriscos incendiando o breu. Cerração não me deprime. Dá até conforto: nada de suor, nada de pele crestada, nada de luz furando a retina. Até o sol fica bom de ver quando há uma cortina de nuvens que o converte numa espécie de lua, dessas que gostam de se mostrar dengosas, hipnotizando gentes e bichos. Na cidade, só vejo edifício de longe. O sol causticante do Agreste me viciou em horizontalidades. Normalmente, ignoro o que habita acima da minha calvície. Estrelas cadentes, acho até bonitas, mas não tenho paciência de ficar esperando com a cara pra cima. Resultado: só vi uma e mesmo assim porque me mostraram, numa peripécia amorosa nos matos gerais... Por essas e outras, minhas preferidas são as viagens ao infinito pelo avesso: de multidões a grupos, pessoas, um, membros, células, núcleos, ocos sem fim nem fundo.