terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Atibaia estranhada

Faço caminhadas matinais nada regulares, mas sempre motivada pelo objetivo de me livrar dos 20 quilos que adquiri em 18 anos de casada. Os arredores são de paisagens que acalmam e encantam, embora na verdade nunca preste muita atenção em nada, afinal tudo estará no mesmo lugar amanhã quando voltarei para, com cabeça mais fresca, quem sabe dar uma olhada melhor... Nunca me esforço em prestar atenção aos detalhes da natureza: tudo parece tão verde, tão monótono e eu nem tenho tempo a perder, sempre tem algo me esperando com urgência e meus pensamentos insistem em continuar algo que ficou pendente lá no escritório... Assim, sigo o meu  trajeto trabalhando.
Porém, quando minha mãe está hospedada em casa, parece que ela está em outro lugar do planeta - não seria exagero concluir, ao ouvi-la quando chega de uma caminhada, que acabou de chegar do paraiso e esteve com o próprio Criador... São tantos detalhes, tantas estórias de encontros com espécies de aves, flores e frutos, aromas e cores, tanta empolgação que realmente fico me sentindo culpada por transformar o meu paraíso em um verdinho corriqueiro, sem valor ou importância.
Quando ela relatou seu encontro com uma coruja foi demais: pedi provas e ela trouxe uma centena de fotos da pobre corujinha irritadíssima. Ampliando as fotos na tela encontramos o motivo do pai ficar de sentinela no chão: junto à árvore havia um ninho, um buraquinho no pé do tronco no meio da relva baixa. A maioria das espécies nidifica em árvores, mas as corujas cavam no chão verticalmente e depois prosseguem horizontalmente até o ponto definido para colocar o ninho livre de predadores.
Voltei para registrar pessoalmente, acompanhada da minha mãe que insiste em dizer que já é amiga íntima da pobre corujinha. Desta vez não vi os filhotes, mas ouvi um sibilar nervoso vindo de dentro do ninho, que deve-se ao fato de que os filhores ameaçados podem imitar sons de serpente, intimidando um possível invasor. A mãe levantava as asas, ameaçadora, como quem não precisa de amigos. E pensar que olhava para a praça atrás da minha casa em Atibaia, SP, e via apenas mato e abandono... Prometo que vou me comprometer com a paisagem e olhar com carinho os meus caminhos.



Fotos e relato: Carla Valdês
Descoberta e deslumbramento: Leda Lima

domingo, 25 de dezembro de 2011

Entorno estranhado

Este é o título de uma nova seção deste blog, para compartilhamento das minhas "coisinhas" e, desta vez, também para as de quem mais quiser: a ideia é registrar, em no máximo três imagens ou três ângulos de uma mesma imagem aquela obra de arte que esteve sempre dando sopa no caminho que você faz todo dia, ou uma tampa de boeiro, um amontoado de lixo, sua própria gaveta... o que quer que seja que, de repente, você olhou com admiração, espanto ou estranhamento. Como sou o pai da criança, tomo a liberdade de apresentar a primeira de umas não-sei-quantas séries de fotos da Praça Universitária de Goiânia que já tenho aqui no meu arquivo e que distribuirei com parcimônia, pra não encher o saco da comunidade... Sem mais delongas, com vocês: "concreto".




Fotos: Walderes Brito

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Pau na máquina

Foi na emissão da CNH que a demônia da máquina digital inaugurou a minha era das fotos-de-documentos-pessoais-com-cara-de-monstro. Depois o título com identificação biométrica e agora o passaporte. Aí a minha depressão converteu-se em revolta luddista, motivando esse manifesto: você que também perdeu o direito de esperar o dia certo para ir a um Fujioka da vida, quando milagrosamente não amanhecia com a cara inchada e os cabelos amassados, junte-se a mim nessa rebelião contra as famigeradas máquinas digitais, operadas sob cadaverizantes luzes fluorescentes, por atendentes enfadadas de um Vapt-Vupt, numa espécie de paredão de fuzilamento...
A gota d'água pra mim foi comparar a atual com as fotos de passaportes anteriores: de-pri-men-te! De príncipe, passei a ogro sem nenhum tipo de estágio ou pulgatório e, juro, tudo por conta dessas malditas máquinas digitais, cuja falta (ou excesso) de sensibilidade, nos impõe uma insuportável consciência da realidade. Bom mesmo era aquele tempo em que o Geovane e o Ivanildo retocavam à mão nossos retratos em preto-e-branco, nos estúdios de São Bento do Una; ou aquele desenhista que, num dia de feira, praticamente fez uma cirurgia plástica em tia Zália, por encomenda da própria cliente. Por acaso "a verdade vos libertará" é uma máxima aplicável ao campo da estética? Ora me poupe...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Metido a besta

É assim que fico toda vez que leio um livro de uma sentada/ encostada/ deitada, como fiz hoje à tarde com "A arte de pesquisar", da Mirian Goldenberg. Não, não estou fazendo trabalho final de nenhuma disciplina; também não vou mentir que peguei esse livro só de vadiagem intelectual... Na verdade, estou parteira de 8 artigos, já passados da hora de nascer, da Pós-graduação em Educação para a Diversidade e a Cidadania, oferecida pelo Programa de Direitos Humanos da UFG, ao mesmo tempo em que preparo uma semana de aulas na Pós-graduação em Adolescência e Juventude no Mundo Contemporâneo, que será ofereceda pela PUC-Goiás e Casa da Juventude, loguinho que 2012 chegar. Nos dois casos, orientação metodológica é o meu ofício.
Se o livro fosse chato, porém, não haveria obrigação que me fizessem acabá-lo em uma tarde: tenho mil estratégias de postergar uma leitura encruada, incluindo pausas sistemáticas e intercaladas para beber água, conferir e-mails, checar notícias e até tirar uma soneca... Hoje, nada disso foi necessário. Simplesmente porque a Miriam Goldenberg sabe fazer interessante e envolvente até os assuntos que a maioria não sabe dar mais que o tratamento literário reservado às bulas de remédio. Se ela faz isso com metodologia de pesquisa, o que não terá feito em "Toda mulher é meio Leila Diniz", "Infiel" e "Coroas"?
Na minha curiosidade, vai a dica para quem estava descabelando para escolher o meu presente de Natal...