sábado, 29 de setembro de 2012

Tudo bem, mãe: vamos deixar assim!

Com o meu aniversário, comemorado hoje, fechamos todo o ciclo de nascimentos da nossa casa, iniciado com a festa de Everaldo, nascido em 31 de julho, seguido por Cristiany, de 11 de agosto, depois Vanuzia, 19 de agosto e Eliane, 1º de setembro... Além de admirar a fertilidade dos verões na nossa casa, costumamos encenar o game da reclamação das escolhas de mamãe. Não do meu “w”, do “y” da Cris ou do “i” de Nuzia, culpa exclusiva do pessoal do cartório de São Bento do Una; mas dos nomes mesmos, como tais. No meu caso, sempre protesto contra a falta de catolicidade de mamãe, que resolveu homenagear o padrinho dela ao invés de simplesmente olhar na folhinha do Sagrado Coração e me batizar como “Miguel”, “Gabriel” ou “Rafael” – os santos de hoje. “Miguel Brito”, já pensou? Eu ia arrasar...

Pela mesma folhinha, Cristiany poderia ter sido “Lélia” ou “Clara” (ou seja, se daria bem de qualquer forma). Em compensação, Vanuzia poderia ser “Sista”, Eliane “Terenciana” e Everaldo “Demócrito”... Até eu poderia perder um dos três nomes bacanas, para não gerar ciumeira nos outros dois anjos, e acabar virando “Arcanjo”.
 
Por este lado, melhor deixar as coisas como estão e tratar de celebrar a vida, como comecei desde ontem, conhecendo com o pessoal do curso de inglês a simpática Gimli, uma das cidades localizadas às margens do Lago Winnipeg, distante mais ou menos 80 km da cidade de mesmo nome. Veja aí alguns registros da presença Viking no nosso continente, os quais, segundo o pessoal que nos recebeu, seriam os reais “descobridores” da América, no ano mil, portando cinco décadas antes de Colombo.





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domingo, 23 de setembro de 2012

Sinos, meninos/as e texturas

Como sou um cidadão, digamos assim, caseiro, tenho de armar planos para não ficar enfurnado, ainda mais quando tenho o estímulo de ter de me paramentar inteiro antes de por o pé na rua, em qualquer dia ou horário... Hoje, devido ao monte de atividades de estudo, saí para comprar batata e cenoura, nada mais. Na frente do supermercado, porém, havia um senhor templo que, justo naquela 10h30, chamava fiéis para o culto, com sinos suaves como não havia escutado. Resultado: caí no canto da sereia, atravessei a rua e entrei. Dentro, uma luz âmbar, filtrada por vitrais gigantes de ambos lados da nave central, dava um clima de útero, reforçado por uma disposição semicircular dos bancos centenários, com um declive semelhante a teatros de arena, que possibilitam ver tudo e todos de todos os lados, sem fazer esforço algum. Quando começou o culto não restou mais dúvida sobre a razão do órgão de tubo ocupar o lugar do altar-mor das igrejas católicas: na Westminster Church a música tem uma centralidade indiscutível, como seria provada nos hinos entoados pela assembleia, pelo coral ou pelas solistas.
 
Duas curiosidades a mais: o cumprimento da paz foi um momento bem gostosinho das pessoas conversarem de verdade e não apenas cumprirem uma formalidade; e o cuidado com as crianças foi um toque notabilíssimo: elas participaram na primeira parte do culto, junto aos pais, até que o pastor pôs um chapéu de palha e pegou uma vareta com um peixe de cartolina rosa pendurado por uma linha e as convidou para os bancos da frente. Apesar da indumentária, sem afetação ou papagaiada, conduziu a conversa mais delicada de que tenho memória sobre pescaria e sobre o recado de Jesus para “os discípulos pescarem pessoas”. Daí saiu com elas e as outras pessoas da Escola Dominical, pela lateral, enquanto outra pastora ocupava o púlpito para a Liturgia da Palavra, tendo as versões lucana (5,1-11) e joanina (21,1-14) do “milagre da pesca” sido lidas e, depois, interpretada num sermão interessante mas longo de doer.

Saí de lá com um riso de Monalisa na boca, comprei minhas batatas e cenouras e vim preparar meu almoço. Se quer saber, no mercado tinha até coentro, mas esta história fica pra depois.






 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sobre ruas, comidinhas e micos

Na tarde do primeiro dia, uma semana atrás, depois de tomar um banho gelado, por não descobri por minha conta como fazer a ducha aquecer, fiz o meu primeiro passeio em linha reta pela Portage Avenue, com a ousadia máxima de voltar pelo outro lado da rua. Passei, provavelmente, por todas as instalações da Universidade de Winnipeg, inclusive o prédio principal, com cara de castelinho medieval, jardins impecáveis e um casal de jovens deitados no chão. No fim da caminhada, achei um shopping do qual não registrei o nome e onde não consegui escolher o que comer, apesar de não ter almoçado e ser já 6 horas da tarde. Inapetência resultante das mais de 24 horas de viagem, contando as muitas horas perdidas nos aeroportos de Goiânia, Guarulhos e Toronto. Por fim, tomei um caldo de brócolis no Subway depois de, a muito custo, a atendente compreender que eu estava escolhendo uma sopa e não pedindo para ir ao banheiro...
De lá pra cá fiz muitos progressos: já comi um arroz indiano que fritou meu estômago e uma simpática batata com peixe, servida num sustentável papel com cara (mas não tipo) de jornal. Hoje fiz os meus dois primeiros ovos mexidos, os melhores da minha vida, embora não esteja muito certo se consegui fazer o diabo do saleiro dispensar o tempero necessário à guloseima.



terça-feira, 18 de setembro de 2012

A minha janela vista e as vistas da minha janela

Ô de casa!
Na quarta-feira, 12 de setembro, fui recebido em Winnipeg por um vento de 80 km por hora, que fez do avião folha seca, testando, já de cara, a condição dos meus nervos para as fortes emoções ambientais que se anunciam. Logo, porém, o vento foi tangido pela calorosa recepção da professora Shannon, que não quer ser chamada de “Professor”, “Doctor” ou “Sampert” e que é a simplicidade e a alegria em pessoa. Para me abrir as portas do Lions Manor, minha casa pelos próximos 12 meses, foi chamado o Diego, um salvadorenho que está há um ano em Winnipeg, fazendo Ciências da Computação e que, em espanhol, já me deu todas as dicas de sobrevivência possíveis para uma caminhada de cinco quadras, testando e comendo as rodinhas das minhas malas. Meu quarto é iluminado, espaçoso, acolhedor e fica de frente para a rua principal (Portage Avenue) e pode ser visto pelo Google quando se olha tanto desde a “Express Aproval” quanto desde o “Casa-Loma Building”. Veja aí nas fotos (de fora pra dentro, acima, e de dentro pra fora, abaixo) ou brinque de conhecer a rua em 3D, clicando aqui!

Ô de fora!







 
 
 



domingo, 16 de setembro de 2012

O de sempre, por favor!

Não sou nenhum primor em termos de memória. Pra ser bem franco, sou um desastre: esqueço rapidinho coisas bem graúdas e, se há algum esquema de seletividade desta área do meu cérebro, sua compreensão me é completamente vedada até agora. Ainda assim, dias de embarque (como hoje!) me dão a incrível sensação de déjà vu, prisão no espelho ou coisa que o valha. Tenho certeza que já vivi exatamente isso e não consigo não ficar um pouquinho frustrado de ver que a idade, embora traga maturidade, também não faça milagres... No tempo que fiquei “só” no Aeroporto de Guarulhos, antes de encontrar a Vanessa Correia (que me deu uma tarde de carinho e companhia, em plena terça-feira paulistana) e depois de me despedir dela para morar na sala de espera, vivi outra vez os dias de embarque de São Bento para Cuba (1990) e de lá outra vez para Goiás (1992), primeiro para um semestre de intercâmbio e depois para uma experiência de vida sem data para terminar. Tenho consciência de que, como as outras, esta também será uma experiência marcante. Sei que, mais tarde, ficarei feliz com isso, porém, assim como a idade não me fez menos “cagão”, essas racionalizações são igualmente estéreis. Todo desejo agora é de habitar a trivialidade do meu cotidiano em Goiânia ou arquitetar rápido uma "normalidade possível" em Winnipeg.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Errâncias por Winnipeg

Cheguei na lua minguante,
faltando 110 dias para o ano acabar.
Se as previsões se confirmarem,
em seis semanas conhecerei a neve...