* Verso de canção de Noel Rosa
segunda-feira, 26 de abril de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Paixão de vó Dorica
O ponto alto da Semana Santa da minha infância era a sexta-feira da paixão. A abstinência de carnes nas seis sextas da quaresma preambulavam a sexta-feira maior, quando os homens nem bebiam água na metade do dia e todo mundo tinha de jejuar. Criança não era obrigada, mas o fazia como quem pede licença para entrar na vida adulta. Jejum, na verdade, é modo de falar, porque o dia era de banquete, e dos fartos! O negócio consistia em acordar cedo, não tomar café da manhã e esperar que chegasse meio-dia em ponto para poder sentar à mesa que, mesmo de 12 lugares, sem contar os tamboretes improvisados, ainda era insuficiente para acomodar os herdeiros. Eu era um dos que sempre sobrava para a mesa da outra sala: suprema humilhação... A compensação vinha em forma de bacalhau e peixes preparados de trocentos jeitos e mais uma toneladas de pratos que só davam o ar da graça naquele dia, sem contar que na sobremesa tinha bolo de mandioca já fatiado e uma “poncheira” de umbuzada daquelas bem doces e grossas. A essa altura o jejum já tinha ido pro beleléu, mas sem culpa nenhuma porque a quantidade de calorias ainda não figurava no cânone dos 8 pecados capitais. Até hoje não entendi porque só nessa época o livro de vô Jorge, com figuras de dilúvios e de santas martirizadas, saia do guarda-roupa e vinha à público... E alguém sabe explicar por que, com tanto feijão e côco o ano inteiro, só nessa época feijão de côco frequentava a mesa dos “Cândios”? E que idéia é essa de servir “imbuzada” de sobremesa?
Depois disso, vinha o sábado de aleluia com o “Judas” nas portas dos vizinhos de Linduarte e tia Zália, na Una, e os banhos matinais (por que todas as águas do sábado de aleluia são abençoadas) e, para completar, o domingo de páscoa, que é o maior para a maioria, e pra gente não tinha a menor graça.
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