terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Atibaia estranhada

Faço caminhadas matinais nada regulares, mas sempre motivada pelo objetivo de me livrar dos 20 quilos que adquiri em 18 anos de casada. Os arredores são de paisagens que acalmam e encantam, embora na verdade nunca preste muita atenção em nada, afinal tudo estará no mesmo lugar amanhã quando voltarei para, com cabeça mais fresca, quem sabe dar uma olhada melhor... Nunca me esforço em prestar atenção aos detalhes da natureza: tudo parece tão verde, tão monótono e eu nem tenho tempo a perder, sempre tem algo me esperando com urgência e meus pensamentos insistem em continuar algo que ficou pendente lá no escritório... Assim, sigo o meu  trajeto trabalhando.
Porém, quando minha mãe está hospedada em casa, parece que ela está em outro lugar do planeta - não seria exagero concluir, ao ouvi-la quando chega de uma caminhada, que acabou de chegar do paraiso e esteve com o próprio Criador... São tantos detalhes, tantas estórias de encontros com espécies de aves, flores e frutos, aromas e cores, tanta empolgação que realmente fico me sentindo culpada por transformar o meu paraíso em um verdinho corriqueiro, sem valor ou importância.
Quando ela relatou seu encontro com uma coruja foi demais: pedi provas e ela trouxe uma centena de fotos da pobre corujinha irritadíssima. Ampliando as fotos na tela encontramos o motivo do pai ficar de sentinela no chão: junto à árvore havia um ninho, um buraquinho no pé do tronco no meio da relva baixa. A maioria das espécies nidifica em árvores, mas as corujas cavam no chão verticalmente e depois prosseguem horizontalmente até o ponto definido para colocar o ninho livre de predadores.
Voltei para registrar pessoalmente, acompanhada da minha mãe que insiste em dizer que já é amiga íntima da pobre corujinha. Desta vez não vi os filhotes, mas ouvi um sibilar nervoso vindo de dentro do ninho, que deve-se ao fato de que os filhores ameaçados podem imitar sons de serpente, intimidando um possível invasor. A mãe levantava as asas, ameaçadora, como quem não precisa de amigos. E pensar que olhava para a praça atrás da minha casa em Atibaia, SP, e via apenas mato e abandono... Prometo que vou me comprometer com a paisagem e olhar com carinho os meus caminhos.



Fotos e relato: Carla Valdês
Descoberta e deslumbramento: Leda Lima

domingo, 25 de dezembro de 2011

Entorno estranhado

Este é o título de uma nova seção deste blog, para compartilhamento das minhas "coisinhas" e, desta vez, também para as de quem mais quiser: a ideia é registrar, em no máximo três imagens ou três ângulos de uma mesma imagem aquela obra de arte que esteve sempre dando sopa no caminho que você faz todo dia, ou uma tampa de boeiro, um amontoado de lixo, sua própria gaveta... o que quer que seja que, de repente, você olhou com admiração, espanto ou estranhamento. Como sou o pai da criança, tomo a liberdade de apresentar a primeira de umas não-sei-quantas séries de fotos da Praça Universitária de Goiânia que já tenho aqui no meu arquivo e que distribuirei com parcimônia, pra não encher o saco da comunidade... Sem mais delongas, com vocês: "concreto".




Fotos: Walderes Brito

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Pau na máquina

Foi na emissão da CNH que a demônia da máquina digital inaugurou a minha era das fotos-de-documentos-pessoais-com-cara-de-monstro. Depois o título com identificação biométrica e agora o passaporte. Aí a minha depressão converteu-se em revolta luddista, motivando esse manifesto: você que também perdeu o direito de esperar o dia certo para ir a um Fujioka da vida, quando milagrosamente não amanhecia com a cara inchada e os cabelos amassados, junte-se a mim nessa rebelião contra as famigeradas máquinas digitais, operadas sob cadaverizantes luzes fluorescentes, por atendentes enfadadas de um Vapt-Vupt, numa espécie de paredão de fuzilamento...
A gota d'água pra mim foi comparar a atual com as fotos de passaportes anteriores: de-pri-men-te! De príncipe, passei a ogro sem nenhum tipo de estágio ou pulgatório e, juro, tudo por conta dessas malditas máquinas digitais, cuja falta (ou excesso) de sensibilidade, nos impõe uma insuportável consciência da realidade. Bom mesmo era aquele tempo em que o Geovane e o Ivanildo retocavam à mão nossos retratos em preto-e-branco, nos estúdios de São Bento do Una; ou aquele desenhista que, num dia de feira, praticamente fez uma cirurgia plástica em tia Zália, por encomenda da própria cliente. Por acaso "a verdade vos libertará" é uma máxima aplicável ao campo da estética? Ora me poupe...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Metido a besta

É assim que fico toda vez que leio um livro de uma sentada/ encostada/ deitada, como fiz hoje à tarde com "A arte de pesquisar", da Mirian Goldenberg. Não, não estou fazendo trabalho final de nenhuma disciplina; também não vou mentir que peguei esse livro só de vadiagem intelectual... Na verdade, estou parteira de 8 artigos, já passados da hora de nascer, da Pós-graduação em Educação para a Diversidade e a Cidadania, oferecida pelo Programa de Direitos Humanos da UFG, ao mesmo tempo em que preparo uma semana de aulas na Pós-graduação em Adolescência e Juventude no Mundo Contemporâneo, que será ofereceda pela PUC-Goiás e Casa da Juventude, loguinho que 2012 chegar. Nos dois casos, orientação metodológica é o meu ofício.
Se o livro fosse chato, porém, não haveria obrigação que me fizessem acabá-lo em uma tarde: tenho mil estratégias de postergar uma leitura encruada, incluindo pausas sistemáticas e intercaladas para beber água, conferir e-mails, checar notícias e até tirar uma soneca... Hoje, nada disso foi necessário. Simplesmente porque a Miriam Goldenberg sabe fazer interessante e envolvente até os assuntos que a maioria não sabe dar mais que o tratamento literário reservado às bulas de remédio. Se ela faz isso com metodologia de pesquisa, o que não terá feito em "Toda mulher é meio Leila Diniz", "Infiel" e "Coroas"?
Na minha curiosidade, vai a dica para quem estava descabelando para escolher o meu presente de Natal...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A elegância do auriço

Esse é o título do livro de Muriel Barbery, que habitou minha cabeceira nos últimos dias, do qual me despedi hoje à tarde. Estava com saudade de uma leitura dessas cuja obrigação é apenas nos arrebatar com o poder sugestivo das palavras "bem ditas", sem nada de conceitos a serem assimilados ou contestados... Numa época de tantas ansiedades pelas seleções acadêmicas de amigos e, portanto, também minhas, mando um trecho dos que, como no princípio, escrevi no caderno que registra as palavras que me arrancam de uns e me plantam em outros solos:

"Lembro-me de toda aquela chuva... O barulho da água martelando o telhado, os caminhos inundados, o mar de lama nas portas de nossa fazenda, o céu negro, o vento, a sensação atroz de uma umidade sem fim, que nos pesava tanto quanto nos pesava a nossa vida: sem consciência nem revolva. Estávamos apertados uns contra os outros perto da lareira quando, de repente, minha mãe se levantou, desequilibrando toda a turma; surpresos, nós a vimos dirigir-se para a porta e, movida por um obscuro impulso, escandará-la. [...] Na moldura da porta, imóvel, os cabelos grudados no rosto, o vestido encharcado, os sapatos cobertos de lama, o olhar parado, estava Lisette. Como minha mãe soubera? Como essa mulher que, embora não nos maltratasse, jamais dera a entender que nos amava, nem com gesto nem com palavra, como essa mulher rude que dava à luz seus filhos da mesma maneira que revirava a terra ou alimentava as galinhas, como essa mulher analfabeta, embrutecida a ponto de nunca nos chamar pelo nome que nos dera e que duvido que ainda lembrasse, soube que sua filha semi-morta, que não se mexia nem falava e olhava fixo para a porta sob a chuva torrencial sem sequer pensar em bater, esperava que alguém abrisse e a fizesse entrar no calor?" (BARBERY, Muriel. A elegância do ouriço. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 307-308)

domingo, 2 de outubro de 2011

Vida Maria

Talvez por ser uma animação, com possibilidades de imaginação próxima da literatura, este curta me devolve a mil histórias, lugares e Marias do meu percurso. Vejo-o sempre com respiração curta, frio no estômago e lágrimas nos olhos.


Ache outros vídeos como este em ENEEnf

domingo, 4 de setembro de 2011

Quem tem medo da pesquisa empírica?

Ao invés do temido fim do jornalismo a revolução midiática ou midiamorfose amplia as possibilidades da atuação profissional nas áreas da comunicação, afirma o jornalista e professor Rosental Calmon Alves, na conferência de abertura do XXXIV Congresso da Sociedade Brasileira de Ciências da Comunicação, Intercom. O congresso acontece de 2 a 6 de setembro, na Universidade Católica de Pernambuco, Unicap, onde também se celebra os 50 anos do curso de Jornalimos local. Deslise do palestrante: projeção da imagem da Amazônia X imagem da caatinga, num contexto de comparação de "ecossistema analógico" e "ecossistema digital", sendo o primeiro a marca do século XX e o segundo, ícone do século XXI. Em outras palavras, "cagou" metaforicamente no ecossistema do lugar onde está acontecendo o congresso... Ignorância sobre a riqueza da caatinga? Deslumbramento com as novas tecnologias? Esse congresso promete...

Walderes Brito
Mestre em Comunicação e Doutorando em Sociologia

domingo, 28 de agosto de 2011

Tá pintando uma angústias? Faça uma lista!

"Para uso pragmático, ético e moral da razão prática" é um dos textos raramente curtos e frequentemente empolados e instigantes do Habermas que, se quiserem, ponho na minha lista afazeres para um dia desses falar sobre ele. Hoje o meu negócio é dá receitas e, por isso, lembrei do texto do Habermas que, não fosse a verve escalafobética do autor, se chamaria apenas "o que fazer".

Fazer listas encabeça de longe os meus protocolos de como lidar com o caos em qualquer campo. Há uma tira de papel e uma caneta sobre o microondas para anotar os produtos que faltam na cozinha; uma lista na minha mesa-mochila-bolso com as coisas que eu vou ou deveria fazer; outra no meu meu computador sobre os textos que eu preciso ler; só para falar das mais regulares e parrudas... E é claro que essas listas não servem pra nada: no supermercado sempre me dou conta que a lista foi abandonada em cima do microondas e as minhas listas de afazeres e leituras têm o mistérios de só crescer, basicamente porque lá só entram as coisas que eu nunca leio nem faço.

Na verdade, menti duas vezes: faço algumas coisinhas dessas listas, sim, e tenho um prazer quase orgástico de transformar os traços em asterisco o que, no meu sistema, significa que o assunto foi resolvido, liquidado e não precisa mais sequer ser lido; e, segunda mentirinha, minhas listas servem pra alguma coisa sim: salva-me da obsessão (quase TOC) de achar que vou esquecer aquele produto, texto ou compromisso se ele não estiver na minha lista. Então eu escrevo lá e, pronto, esqueço, mas sem a aflição de achar que vou esquecer - o que é completamente diferente. Inútil, mas desestressante.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Lições de trânsito e muito mais

- "Se for sozinho...", sentenciou, usando no lugar do verbo a mão esquerda crispada, com dedos unidos e retos, em movimento de foice, sentido anti-horário, indicando morte certa. "Moto é outro bicho matador", completou, concluindo o curso rápido de sobrevivência de pedestres no trânsito, entre muito, sobre temas variados, cursados neste mês de deliciosa companhia da minha mãe e que terminará na madrugada que vem, com o retorno dela ao Recife. Diferente de outras, nesta passagem por goiânia ela me chegou com regras rígidas de atravessar a rua, incluindo só fazê-lo em grupo, porque "se for sozinho..." - já sabe, né?! Mas, claro, não foi a única lição...


Aula 1: como encarar o frio

Aula 2: como entrar em forma

Aula 3: como lembrar que ninguém é de ferro

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Girafas, corujas e dores difusas


achei aqui
Noite passada, fiquei particularmente penalizado pela condição das corujas e das girafas: é péssimo não dormir e é o cão sentir conforto apenas quando se está de pé... Na verdade tenho corugirafiado alguns dias e noites, desde abril, e ainda não sei direito o que tenho. Sei bastante o que “não tenho”, sendo o principal descarte o das causas oncológicas que, no meu caso, é sempre por onde começam as investigações. Não sendo câncer, fui prontamente dispensado pela minha médica de todo semestre.

Dos colegas dela que encontrei em emergências, em algumas noites particularmente agudas, os mais interessantes foram um casal de residentes que enfiou repetidamente os dedos sob minhas costelas enquanto trocavam informações sobre as suas formaturas no meio do ano, imunes às minhas caretas e gemidos, ignorando o quão cabeluda e breve poderia ser a minha vingança. Assim que comunicaram o diagnóstico ao médico-professor, ficaram com a cara no chão porque o paciente (eu!) comunicou que não poderiam ser cálculos na vesícula, porque essa peça já virara resíduo hospitalar anos atrás...

Depois de muitos exames (que mostram, basicamente, que eu não tenho nada) e uma boa dose de variados e inúteis analgésicos, hoje seria a consulta com um gastroenterologista. “Seria” porque não foi: diferente do que o site do fabuloso Ipasgo informa, o cara é proctologista. Pode? Sacanagem! Tudo bem que tenho uma dor difusa, mas tenho a impressão que conseguiria distinguir incômodos em partes tão extremas do aparelho digestivo... Marquei outro para amanhã. Só falta chegar lá e o cara ser um veterinário!

aqui aqui


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Síndrome psicótica da pesquisa em andamento

achei aqui
SPPA será a sigla brevemente incorporada ao linguajar corrente, para designar uma série de disturbios que acometem 9,5 em cada 10 estudantes de graduação, mestrado e doutorado, porém, já com casos documentados em pessoas em fase pre-escolar quem têm histórico de SPPA na família. Os sintomas são muito variados, mas geralmente começam com uma vontade incontrolável de meter em qualquer conversa o assunto da pesquisa. Não tem dia, nem horário, nem local, nem nada. Vacilou, o/a "sppanóico" sapeca informações de autores, leituras, eventos ou o que seja - geralmente provocando um riso amarelo e um silêncio catatônico do outro lado, porque a maioria das pessoas não está preparada para interromper bruscamente ou dá um tabefe, que são recomendações médicas de como lidar com um paciente em crise.

Há, é claro, muitas outras manifestações como, por exemplo, ter alucinações de ver em todo lugar e a todo o tempo coisas que supostamente estariam relacionadas ao seu campo de estudo - sintoma próximo das perseguições esquizóides. Ou a incorporação de um jargão ultra-mega especializado que traz para o cotidiano termos esdrúxulos e alienígenas como "recorte empírico", "abordagem metodológica", "sustentação teórica" e, talvez o pior deles, "currículo lattes" - assim mesmo com dois "ts". É bem comum também montar grupos de "SPPA anônimos" para trocas de consolações, avisos de que a próxima fase será ainda pior e, sempre, fazer uma espécie de descarrego falando mal dos orientadores.

No auge das crises, perde-se seções de cinema, festas familiares e também os cabelos, enquanto ganha-se peso e o afastamento dos amigos. Dependendo da duração e intensidade, vão-se pelo ralo também maridos, namorados e equivalentes, sem contar os prejuizos materiais com seminários, congressos, livros e, não raro, a incursão do mundo do crime, através da pirataria xerocópica. Plágio é o fundo do poço e a degringolagem definitiva do SPPA no universo da contravenção.

Não cheguei a tanto (porque, sim, sou um paciente crônico), mas sinto que não estou "normal". Ultimamente tenho promovido espécies de arrastões em torno do que seria "Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos" (e, por favor, não me perguntem o que é isso, porque o risco é grande de que eu entre num estado mental caótico irreversível): nas visitas, dou uma olhadela na quantidade de lixeiras das casas de amigos, sondo qual o dia que o caminhão da coleta seletiva passa naquela rua, criei uma seção nesse blog sobre o assunto e, o que me fez escrever este texto, dei de presente uma lixeira para o meu amigo que está de casa nova, junto com uma espécie de catequese de que naquela só poderiam entrar materiais secos e sem meleca. Aí comecei a fica aparovado... acredita que para ser mais convincente e mobilizador, fui a uma papelaria e tasquei um tanto de adesivos personalizadores na bichinha! Diz aí se ela não ficou fofa?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O que se faz quando se faz silêncio?

achei aqui
“Traquinagem”, em bom pernambucanês, é o substantivo que define o que geralmente um menino “traquino” (adjetivo) faz quando, sorrateiramente, escapa às vistas da mãe zelosa, para pintar o 7 e fazer outras artes mais. A maternagem bem treinada da Carla Valdes, minha prima número dois, deu conta do meu sumiço e, como não sou bom em desculpas, já vou logo confessando: estava mesmo “traquinando” (verbo correspondente).

Chama-se “Ateliê de Ciência Social”, um blog fresquinho que tem me ocupado a cabeça e o coração, nascido entre o feriado de Tiradentes e as memórias de Semana Santa em casa de vô Jorge e vó Dorica (lembra que já falei sobre isso por aqui?), foi criado e tornado público por mim, embora ainda esteja em plena construção. A idéia na verdade já é mais antiguinha, mas ganhou corpo agora, durante um curso de Educação a Distância, EAD, que fiz sobre “Uso de blog na educação”, cujo projeto final era justamente por em prática o aprendizado do curso.

Na verdade, ainda não recebi a nota final, então, por favor, visite o “Ateliê de Ciências Social”, e faça lá um comentário bem elogioso para que a Dayse Alvarez, nossa monitora, fique bem impressionada e me dê um “notaço”. Mas capriche: se for preciso, minta sem pudor. Principalmente você, Carla, que me deixou todo vaidoso, pedindo que eu escrevesse alguma coisa nova neste blog, que é um dos meus espaços de expressão mais livres, sem pretensões e, consequentemente, mais prazerosos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Já no milênio passado

A imagem acima foi apresentada pela professora Simone Pfeiffer, numa aula recente de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos, e chama muita a atenção para o fato de ter sido publicada no início do século XX. Não é impressionante? Ela está disponível aqui também, em um artigo muito interessante sobre o tema.

domingo, 10 de abril de 2011

Pensando com Tadeu Lima

Envolta em mil fantasias edificantes, a escola pode ser, e muitas vezes efetivamente é, um espaço de sofrimento de diversos tipos e, por outro lado, de exercício do que há de pior e assombroso em nós. É claro que este também pode ser um espaço e um tempo de construção efetiva de gente bacana e de um mundo capaz de lidar com a múltiplas formas de sermos humanos. A campanha abaixo me chegou através de Tadeu Lima e eu a registro aqui porque tenho a sensação de que vou querer vê-la outras vezes, mesmo daqui a alguns anos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Aplauso para a civilidade

Adoro a ideia dos flashmobs, enquanto possibilidade de intervenção no espaço urbano, com uma pitada de uso sagaz das novas tecnologias a serviço da articulação de pessoas que querem dar um recado (qualquer que seja) e ainda com o charme dos rápidos aparecimentos e sumiços no cotidiano das metrópolis. Esse aqui me foi indicado pela colega Natália Assis - que sabe da minha particular vulnerabilidade circunstancial referente a tudo que diga respeito à resíduos sólidos, educação ambiental e civilidade. Confere aí!

sábado, 2 de abril de 2011

Para jejuar, passar raiva e ainda pagar caro: arepa!

Arepa é um prato típico tanto da Colômbia quanto da Venezuela
e eu achei essa imagem aqui

Quando for celebrar a aprovação em concurso de um amigo seu, por favor, só aceite “arepa” no menu se a degustação for em Bogotá, Medellín ou outra bela cidade colombiana. Nada de arepas nem arepitas em Goiânia, muito menos num restaurante de mesmo nome – recomendação de quem se deu mal no final de semana passada. A coisa já ficou estranha à porta do estabelecimento, onde os garçons passaram pra lá e pra cá e não nos deram um “boa noite” sequer, quanto mais um sorriso e a indicação das melhores opções de mesa. Tudo bem. Estávamos felizes: procuramos nós mesmos. Encontramos e ficamos lá, porque os garçons continuaram nos tratando como se fôssemos a Luana Piovani naquele filme com o Selton Melo: invisíveis. Nem ligamos. Era sábado. Estávamos felizes. Podíamos esperar. Uns “por favor” em alto som, acompanhado de braços erguidos funcionou. O garçom veio – pensamos ter acertado em ser pacientes e bem humorados, embora tenhamos estranhado que o pedido não fora anotado. "Deve ter um memória prodigiosa - cogitamos co's nossos botões... Vinte minutos depois um outro garçom vem a nossa mesa e pergunta se precisamos de alguma coisa. “Que atenda o nosso pedido já feito”. “Vou estar pesquisando” – respondeu o garçom número dois e nós pensamos, já sem conseguir disfarçar o que seria a noite: “Estamos fudidos”.

Duas horas e diversas lambanças do tipo depois, saímos do estabelecimento, dois de nós tendo a felicidade de receber o prato solicitado e os outros dois, coitados (eu um deles...) em jejum absoluto, além de muito mais pobres, uma vez que nos cobraram uma fortuna pela comida e bebida minguada, incluindo os 10% dos garçons trapalhões. Terminamos a noite num buteco com caldos e espetos, bem serviços e bem goianos. Arepa em Goiânia, nunca mais!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Três anos de coleta seletiva em Goiânia

O aniversário foi celebrado neste início de semana, com dados bem expressivos, embora ainda seja possível avançar muito mais.



Você tem o link da matéria veiculada no Bom dia Goiás? Gostaria muito de ver...

terça-feira, 29 de março de 2011

Ferdinando, as flores e a (in)tolerância



Curta também a deliciosa versão em espanhol ou inglês desse clássico, ganhador do Oscar de 1938, às vésperas da segunda grande guerra mundial...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Onde vai parar o lixo nosso de cada dia?

Normalmente acompanhamos o percurso dos resíduos que produzimos, no máximo, das sacolinhas de compras reaproveitadas em nossas casas até o latão comum dos condomínios ou à calçada de casa onde um caminhão com barulho a insalubres decibéis opera a coleta. Daí para a frente, "não sabemos e temos raiva de quem sabe".

“Temos”, nesse caso, é força do costume de escrever num falso plural, porque "eu" me interesso sim (embora também ainda saiba pouco sobre o local exato para onde vão as minhas cacas). Amanhã, porém, terei a oportunidade de uma aproximação a esse universo, visitando o aterro sanitário de Aparecida de Goiânia, como atividade da disciplina Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos, ministrada por Simone Pfeiffer, professora do Mestrado em Engenharia Ambiental.

O que eu estou fazendo nas searas das Engenharias? Bom, isso é outra conversa mas, de qualquer maneira, não causa nenhuma estranheza a quem me conhece há mais tempo e, portanto, sabe dos meus gostos indisciplinados quanto a fronteiras, como quem tem uma espécie de saudade do caos dos tempos clássicos, quando filósofos eram também poetas, transitavam pela teologia, criavam geringonças e otras cositas más.

Voltando ao tema dos resíduos, dá uma olhadinha nos vídeos que localizei de uma série produzida pela Globo, começando pelo quase inacreditável sistema implantado em Barcelona e que fechou a série. Para quem habita este lado do Atlântico e a parte sul do hemisfério, parece coisa de cinema.


Se tiver tempo e curiosidade, não deixe de ver as outras matérias da série, veiculada no Jornal Nacional entre 3 e 8 de maio de 2010:

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Manifesto contra as antropologias de soslaio e as sociologias de vagabundagem

No próximo ano completarei duas décadas em Goiás, mas ainda lembro da urticária que me dava quando meus alunos e alunas da antiga Feclip e atual UEG de Iporá voltavam de férias cheios de sabedoria sobre o Nordeste. De lá prá cá minha irritação evoluiu muito e hoje beira a ferocidade. Mas, diz aí, tem algo mais aborrecido do que gente que retorna de uma mísera semana de viagem, passada em acomodações sofridas pela grana sempre curta e que desce do voo promocional arrotando ciências sociais de araque, do tipo: "Ah, o povo do nordeste é assim...", "As pessoas de Minas são assadas..."?. Pior do que isso só os pedantes e endinheirados que aplicam a mesma cientificidade rasa à gente de Cacum, de Paris ou da Terra Santa...

Dias atrás, quando o prazo acabou e fui obrigado a sapecar umas considerações finais no trabalho da Telma Nascimento, rápido agarrei um livro que a Michele Franco me emprestou, pra não esquecer dos tempos em que eu lia sem obrigação de entender nem de encrencar com o/a autor/a. Puro deleite. O livro era de Filosofia mas, calma, era uma obra de Luc Ferry, um francês que anda por aí ainda hoje e que, não tivesse outros méritos, sabe por em idioma inteligível reflexões fundas sobre a "condição humana".

Sobre isso, aliás, vai o trechinho do livro lido, escolhido, evidentemente, por ser uma arma potente na minha cruzada contra os essencialistas de todo naipe, sempre dispostos a equiparar humanos a ratos, com suas teses precárias a respeito de nordestinos, mineiros, mulheres, negros, viados, pobres e tantos e tantas mais:

"Os animais têm uma "essência" comum à espécie que precede sua existência individual. Existe uma "essência" do gato ou do pombo, um programa natural (o "instinto") que o faz ser granívoro ou carnívoro, e esse programa é tão perfeitamente comum a todos os membros de uma mesma espécie que a existência particular de cada indivíduo que a ela pertence está determinada do começo ao fim: nenhum gato, nenhum pombo pode fugir dessa essência que o determina do começo ao fim e suprime assim nele qualquer espécie de liberdade. Por isso todos os pombos e todos os gatos se parecem a ponto de de ser quase indiscerníveis...

No que concerne ao ser humano, é o inverso: nenhuma essência o determina inteiramente, nenhum programa consegue jamais encerrá-lo de todo, nenhuma categoria o aprisiona tão absolutamente que ele não possa, ao menos em parte - a da liberdade - dela se emancipar por menos que seja. É claro que nasço homem ou mulher, francês ou estrangeiro à França, num meio rico ou pobre, da elite ou popular etc. Mas nada prova que essas categorias de partida me apresem nelas para o resto da vida"

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Férias 3 - Os falos de Brennand e as parentas da metrópole

As férias já terminaram, claro, porque o que é bom dura pouco... Mas ainda tenho coisas pra contar, começando pela saborosa convivência com Stela e Carla, tia e prima residentes em São Paulo, e que também estavam por aquelas paragens. O combinado é que nos encontraríamos no Janga, no chá-de-bebê do primogênito da Rafaela (que nasceu hoje e se chama João Vítor!), uma segunda prima, esta residente em Pernambuco, o que materializaria uma rara reunião de descendestes de filhas e filhos de quatro das oito irmãs e irmão da casa da minha avó, Liliu, a moça da foto acima.
Painel em azulejo, do Brennand, visto de uma das muitas pontes que unem a Boa Vista ao Bairro Santo Antônio, no Recife
O atraso do nosso vôo, entretanto, melou o encontro ou, visto por outro ângulo, reprogramou-o do domingo para a terça seguinte. Momento alto da dita terça foi a visita à oficina do artista plástico Francisco Brennand, octogenário, famoso há décadas, mas conhecido de conterrâneos como nós apenas há pouco – desencontro “normal” para descendentes de donos de engenhos desde as capitanias (como ele), com descendentes de donos de bodegas (como nós). Oxalá essas aproximações não sejam uma exceção ou episódio isolado, mas sinalizem um novo tempo para pernambucanos, brasileiros e humanos em geral oriundos do sul do mundo. Confesso que meu otimismo não chega a tanto, mas gozo com um prazer de classe o acesso às obras de Brennand, de Ariano Suassuna e de Cícero Dias, entre tantos, algumas delas sempre à vista e nunca antes percebidas.

Esculturas localizadas próximo à saída da oficina do Brennand
Entre seres fantásticos em profusão, fornos de cerâmica convertidos em galeria de arte, painéis de azulejo ladeando pontes de ferro, concreto e frevo, histórias de agora e de antes se mesclaram a relatos de cotidianidades que eu, particularmente, de certa forma recusava com um sorriso maroto, como quem escolhe manter no campo sagrado da mitologia, as sempre bem penteadas e maquiadas parentes de São Paulo, tal como os falos de Brennand, os cordéis de Ariano, e a memória dos canaviais que encantaram os franceses, desde os anos 1950, no verde inusitado das telas de Cícero Dias.

Painel de Cícero Dias, instalado no vão central da Casa da Cultura, Recife, PE.
Fotos: Walderes Brito

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Férias 2 - Metade dos herdeiros


Bruno, o mais velho, chegou para fazer o primeiro estágio de meio de curso, no campus Recife do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco; Amanda, a mais alta, estava nos dias de se matricular e conhecer as instalações da escola técnica para a qual fora recentemente aprovada e onde fará um curso em turno integral; Fedra, a de olhos de águia, não chega a ser doce, porque a força incorporada do nome mítico não permite, mas está surpreendentemente mais calorosa; Zara, o broto mais recente, entretanto, é quem vive seus dias de glória, concentrando todos os olhos, mimos e maternações.


No alto dos seus três meses dados à luz, vive o tempo do aprendizado extremo e não se envergonha de se admirar. Se a novidade é grande, e pouca coisa pra ela é corriqueira, faz os olhos de jaboticaba conhecerem a abertura máxima, como quem quer levar para o lado do conhecido qualquer coisa que se deu a conhecer. Ela inteira também faz-se enigma, suscitando interpretações as mais variadas: o sinal das costas diz que terá pele negra; os pés grandes prenunciam uma mulher alta; o choro raro e o riso abundante garantem que será boa gente; quem sabe dos dedos longos não escorram música?

Aguardada por tantos verões, demorada, apreensiva e coletivamente, Zara dissipou o último vestígio de dúvida quanto à radicalidade do amor aos filhos gerados no coração. Domingo a oito, além de sobrinha, ela será oficialmente minha afilhada. Darei a ela o livro de pano que, felizmente, não encontrei pra comprar, que foi projetado por mim e costurado por mamãe – a avó que quase sofre porque Zara não reclama de ficar no berço e que a chacoalha num repetido “twururu-twururu-twururu”, música em falsete que, a seu tempo, acalentou acalentou cada um de nós e que de Zara já arranca risadas dobradas.


Como no livro, contarei para ela os mistérios das lagartas que se transformam em borboleta, dos feijões que viram árvores, dos ovos xadrezes que viram guiné, dos dias que viram noite, das noites que viram dia... de meninas nascidas de fadas que transformam Vida em Felicidade. Foi assim quando o primogênito chegou, igual com os que lhe seguiram, e agora plenamente outra vez.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Férias 1 - A "viagem"

Comprei passagem com meses de antecedência, porque éramos dois (Rezende e eu) e porque, por arte do diabo, nossas folgas sempre coincidem com altas temporadas... Na época, a TAM estava com os melhores preços - o que é quase um milagre. Eu mesmo já estava preparadíssimo para fazer um daqueles percursos Goiânia-Taubaté-Coxim-Avelinópolis-Santana do Livramento-Jupi(finalmente)-Recife, com 19 atrasos em decolagem, simulação de máscaras caindo na minha frente, entre outros velhos ritos, customizados por uma das novas companhias surgidas na esteira da GOL, na era da viagem aérea regada a "pepsi e guaraná, normal e zero, biscoito ou amendoim, pronto e acabou-se".

Numa das raríssimas vezes que conseguimos ser pontuais, chegamos ao aeroporto Santa Genoveva, nome que (injustificadamente) exala provincianismo, e fomos meteoricamente inserimos na modernidade cosmopolita da democracia globalizante do overbooking: "Tivemos um problema de manutenção em nossa aeronave e os senhores estão remanejados para um voo da AZUL" - disse a "aérea-moça". Deu vontade de xingar, espernear, chamar a imprensa... enquanto ela, acostumada à cena, não moveu um músculo até que, resignados e sem fazer nada, dissemos "sim". Era isso ou viajar por outra companhia e ampliar de 4 para 5 as horas de atraso.

O ódio de ficar impotente foi logo dissipado pela companhia da Keli, da Vanessa e do Rafael, que retornavam à São Paulo, depois do último módulo da Especialização em Juventude. Depois disso, sem sobressaltos nem sacolejos, chegamos aos Guararapes e papai nos esperava num carro do qual não tentarei explicar a propriedade, para não precisar remontar à Abraão numa espécie de genealogia de empréstimos, socorros e generosidades amplamente praticados nestas paragens. O possante, que "morrera" bem na chegada ao aeroporto, conseguiu dar a partida, fazer a curva sobre um viaduto no sentido Engenho do Meio, num esforço suficiente para ele "morrer" (dessa vez em definitivo) enquanto estávamos justo na terceira de uma avenida de 6 faixas, bem em frente ao aeroporto.




Lembrei na hora que a Rosi, o Israel e o Wolney, por um triz, estariam ali, e que o episódio de empurrar o carro para o canteiro central, depois atravessar as faixas (empurrando outra vez), para em seguida atravessar à ultima via (empurrando sempre, claro) dessa vez numa curva e na contramão para, finalmente, largar o veículo num posto de gasolina, seria uma forma perfeita de inseri-los no astral da minha terra.

Tudo foi feito, claro, na velha tradição familiar: com muita "mangação" das nossas próprias desventuras. Em casa nos esperava um bocado de parentes e um tanto variado e farto de comida. Pela ordem, mamãe, duas irmãs (Cris e Vanuzia), uma tia (Stella), duas primas (Amanda e Fernanda), um cunhado (Carlos), três sobrinhas (Fedra, Zara e Amanda), uma amiga (Maria), três primos em trânsito (Willian, Rui e a filha - de quem não gravei o nome) e é possível que mais alguém que me escapou da memória. Para comer: xerém com leite ou com galinha ao molho, cuscuz, bolo de mandioca, bolo de chocolate, bolo de ameixa, queijo de qualho, além outras coisinhas ordinárias, sempre disponíveis nas casas do meu pessoal.

Para fechar a recepção, conversamos até às 2 da manhã, no horário de Deus - mas esse já era o dia seguinte, sobre o qual contarei algumas detalhes logo mais.

Imagem captada aqui.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sobre trilhos e girassóis



Num caminho ordinário, descuidei e cresceu, ignorada, uma leira de girassóis, até que um sem tanto de esferas douradas sob o cinza de dezembro me impediram de continuar "sem ver" e me obrigaram a querer sempre olhar. E era tamanha a beleza que eu senti que precisava testemunhas: levei, então, uma carrada de amigos, com a sorte de encontrar disponíveis quatro entre os melhores que tenho. Como era tarde de 31 de dezembro, permitimo-nos, de quebra, enveredar por trilhos quase inativos e fazer mil viagens sobre um cargueiro abandonado. E, assim, fez-se a ponte entre um ano memorável e outro que tem tudo para ser.


















Fotos: Wolney Fernandes de Oliveira