Porém, quando minha mãe está hospedada em casa, parece que ela está em outro lugar do planeta - não seria exagero concluir, ao ouvi-la quando chega de uma caminhada, que acabou de chegar do paraiso e esteve com o próprio Criador... São tantos detalhes, tantas estórias de encontros com espécies de aves, flores e frutos, aromas e cores, tanta empolgação que realmente fico me sentindo culpada por transformar o meu paraíso em um verdinho corriqueiro, sem valor ou importância.
Quando ela relatou seu encontro com uma coruja foi demais: pedi provas e ela trouxe uma centena de fotos da pobre corujinha irritadíssima. Ampliando as fotos na tela encontramos o motivo do pai ficar de sentinela no chão: junto à árvore havia um ninho, um buraquinho no pé do tronco no meio da relva baixa. A maioria das espécies nidifica em árvores, mas as corujas cavam no chão verticalmente e depois prosseguem horizontalmente até o ponto definido para colocar o ninho livre de predadores.
Voltei para registrar pessoalmente, acompanhada da minha mãe que insiste em dizer que já é amiga íntima da pobre corujinha. Desta vez não vi os filhotes, mas ouvi um sibilar nervoso vindo de dentro do ninho, que deve-se ao fato de que os filhores ameaçados podem imitar sons de serpente, intimidando um possível invasor. A mãe levantava as asas, ameaçadora, como quem não precisa de amigos. E pensar que olhava para a praça atrás da minha casa em Atibaia, SP, e via apenas mato e abandono... Prometo que vou me comprometer com a paisagem e olhar com carinho os meus caminhos.