sexta-feira, 29 de março de 2013

"E nesse dia branco..."






A memória é um dos meus muitos cavalos sem freios. Se me fosse dado impor-lhe rédeas, a vista da cidade na manhã de hoje, seguramente, não seria esquecida. Pela terceira vez, mais ou menos, deu-se aquela combinação de frio e humidade que cria bolinhas de neve pequenas e em quantidade suficiente para pintar de branco cada galho magro das árvores e arbustos nus pelo inverno rigoroso de tantos meses. Uma paisagem bonita de ver, ainda mais num dia com poucos carros e muito silêncio.
Bem diferente da colorida, quente e não menos bonita paisagem dos meus tempos de Jesus, nas ruas de São Bento e nas estradas do Brejo Velho e de Olhos d'Água. Isso mesmo: fui um quase ator de quase sucesso de peças sazonais, com talento suficiente pra ser o José do Natal e o protagonista da sexta da paixão. Há umas fotos por aí para contestar certa incredulidade tanto relativa à minha carreira teatral, quanto ao hoje inimaginável fato de eu não ter precisado de peruca para o Nazareno, porque era eu mesmo um cabeludo. Como elas não estão comigo, dependo inteiramente da sua fé e da sua imaginação.

domingo, 17 de março de 2013

"São dois pra lá, dois pra cá"

Lembra que avisei no último recado que estava chegando ao meio do caminho e que o inverno estava fraquejando? Pois disse uma verdade e uma mentira. O inverno em Winnipeg ignora solenemente a calendário e, a dois dias da primavera oficial, a neve pinta de branco até as pistas de rolagem, como você pode ver...

Sobre o meio do caminho, isso é verdade. No meu ano convencionado, hoje seria o 1º de julho, quando os 365 dias se partem bem ao meio e, amanhã, terei 183 dias "vencidos" e 182 de "saldo". Essas datas sempre pedem um balanço, mas eu morro de medo de fazer contas de qualquer tipo. De qualquer modo, digo que me sinto feliz com a oportunidade de viver essa experiência e que sinto um tantinho de orgulho (de mim para comigo mesmo) de me saber capaz de enfrentar um dos poucos climas do planeja que, ao longo do ano, faz um passeio de 70 a 80 pontos na escala Ceusius, caindo perto dos 50º abaixo de zero e, depois, subindo aos 30º.
Há coisas, porém, que nem uma desistalação do tamanho da que eu vivo dá jeito. Continuo tendendo a peru, morrendo na véspera de tudo que eu mesmo invento só pra manter a ansiedade em alta; sou um matuto em qualquer latitude e idioma; e, definitivamente, morro de inveja de quem bebeu água de chocalho e é capaz de enfia um assunto no outro, não importa com quem converse, onde ou como o faça. Meu sonho era ser assim. E ainda queria falar rápido pra fazer caber mais palavras dentro dos segundos!
Fora essas coisas, já bem conhecidas de todo mundo, tenho evitado pensar em feijão-de-corda, pamonhas e "jantinhas" dos botecos do setor universitário mas, no tempo certo e no tempo errado, posso ver as espirradeiras, as quaresmeiras e as sibipirunas das ruas da gente. Isso não tem jeito de segurar. Aí eu suspiro fundo... e vou em frente.