domingo, 2 de agosto de 2009

4. GOSTO - Meu gosto!

Gosto é um híbrido de cachorro acanhado e cavalo sem cabresto. Alguns abanam o rabo, com olhos melados, enquanto se enroscam em nossas pernas, sem chances de escapatória: hábitos, cheiros, sabores, costumes que, se a gente abandona no almoço, à noite parece que o dia foi inexplicavelmente esquisito. Há gostos, especialmente de comidas, que não suportam indagação: que gosto tem a peta, o sagu e o cuscuz? Pergunta ofensiva, independente do tom e da intencionalidade do intrometido.

Não adianta dizer para um goiano que peta tem sabor de isopor lambrecado em banha de porco; muito menos contar para um gaúcho que sagu é algo como bolinhas de cola caseira feita com fécula de mandioca, em cor e calda bordeau; perigoso mesmo é dizer para um nordestino que cuscuz tem cheiro ótimo e gosto de "palha seca"... O gosto dessas e de muitas outras comidinhas está no inacessível e incompartilhável da memória dos afetos e do bem-querer: gosto de casa de vó; gosto de tempero de mãe; cheiro de infância; sabor de antigamente... E por aí vai.

Na redondeza do inacessível também está o gosto da gente por gente. Quando aquele jeito insuportável em qualquer uma não é suficiente para nos afastar de uma pessoa em particular, atenção! Capaz da gente tá gostando da criatura. E quando a gente tem vontade de fazer (ou quando vê até já fez!!!) coisas antes feias, nojentinhas ou proibidíssimas em nosso manual de etiqueta sexual, aí não tem mais dúvida: estamos entregues ao gosto pela pessoa ou, às vezes, só gosto por safadezas mesmo.

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