domingo, 16 de dezembro de 2012

Primeiro ciclo

No dia seguinte à minha chegada em Winnipeg, uma quarta-feira, me apresentei à escola de inglês em que estava matriculado e, confesso, achei meio exagerada a reação da Katia, que seria uma das minhas professoras, que insistiu veementemente que eu não perdesse a aula da sexta-feira, quando pra mim era óbvio ter o terceiro dia dedicado às providências de chegada, entre as quais, comprar um prato e uma caneca.
Corri como um doido na quinta que me sobrava, e fui para a tal aula da sexta. Não consegui cumprir, entretanto, a recomendação de que eu chegasse meia hora mais cedo e, de cara, tomei contato com o lado Rafikova de Katia, que me deu uma descascada federal de boas-vindas, sem concessões e sem meias palavras. Sabão geral. Para não restar dúvida, aproveitou os 15 minutos antes de iniciar a aula, jogando na minha mão mais ou menos 50 páginas copiadas de uma colega que, para aprofundar meu choque, haviam sido usadas nas quatro aulas que eu perdera.
A esta altura, minha mochila foi jogada de uma mesa para outra, indo parar do lado de um adolescente de aspecto indiano, de quem ainda não sabia o nome, com quem compartilhei a mesa nas três horas de aula, suficientes para a generala russa se convertesse de cara, pra mim, em uma excelente professora, dedicada o suficiente para, ao final da aula, investir mais uma hora do seu tempo para me explicar pessoalmente o programa do curso, organizar as 50 páginas em capítulos (reading, writing, vocabulary and critical thinking skills). Além de me fazer uma lista de compras e me ensinar a chegar numa papelaria, dessas boas da gente se perder o resto do dia, não fosse o cansaço e a quantidade de tarefas que tinha já para o final de semana.
Durante o curso, a água foi subindo sem parar, como você deve lembrar, graças às minhas queixas de noites mal-dormidas e domingos enclausurados na biblioteca da universidade... Catorze semanas depois, na sexta-feira passada, foi a hora de celebrar o encerramento do curso e, principalmente, os muitos ganhos que ele me deu, não apenas no domínio da língua inglesa, mas na estruturação do pensamento e na habilidade de redigir observando lógica, consistência e outros rigores acadêmicos. De quebra, entrei para o seletíssimo rol dos alunos com boa nota e melhor repuração junto à professora Kátia Rafikova, de quem vou receber uma carta de recomendação. Arrisquei por tudo a perder, com uma narrativa visual, apresentada na "formatura", para rir um pouco dos apuros desses três meses e, ufa, a história terminou em abraços e gargalhadas cossaco-tupiniquins.


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