No
dia seguinte à minha chegada em Winnipeg, uma quarta-feira, me apresentei à
escola de inglês em que estava matriculado e, confesso, achei meio exagerada a
reação da Katia, que seria uma das minhas
professoras, que insistiu veementemente que eu não perdesse a aula da
sexta-feira, quando pra mim era óbvio ter o terceiro dia dedicado às
providências de chegada, entre as quais, comprar um prato e uma caneca.
Corri
como um doido na quinta que me sobrava, e fui para a tal aula da sexta. Não
consegui cumprir, entretanto, a recomendação de que eu chegasse meia hora mais
cedo e, de cara, tomei contato com o lado Rafikova
de Katia, que me deu uma
descascada federal de boas-vindas, sem concessões e sem meias palavras. Sabão
geral. Para não restar dúvida, aproveitou os 15 minutos antes de iniciar a aula,
jogando na minha mão mais ou menos 50 páginas copiadas de uma colega que, para
aprofundar meu choque, haviam sido usadas nas quatro aulas que eu perdera.
A
esta altura, minha mochila foi jogada de uma mesa para outra, indo parar do
lado de um adolescente de aspecto indiano, de quem ainda não sabia o nome, com
quem compartilhei a mesa nas três horas de aula, suficientes para a generala
russa se convertesse de cara, pra mim, em uma excelente professora, dedicada o
suficiente para, ao final da aula, investir mais uma hora do seu tempo para me
explicar pessoalmente o programa do curso, organizar as 50 páginas em capítulos
(reading, writing, vocabulary and
critical thinking skills). Além de me fazer uma lista de compras e me
ensinar a chegar numa papelaria, dessas boas da gente se perder o resto do dia,
não fosse o cansaço e a quantidade de tarefas que tinha já para o final de
semana.
Durante o curso, a água foi subindo sem parar, como você deve lembrar, graças às minhas queixas de noites mal-dormidas e domingos enclausurados na biblioteca da universidade... Catorze semanas depois, na sexta-feira passada, foi a hora de celebrar o encerramento do curso e, principalmente, os muitos ganhos que ele me deu, não apenas no domínio da língua inglesa, mas na estruturação do pensamento e na habilidade de redigir observando lógica, consistência e outros rigores acadêmicos. De quebra, entrei para o seletíssimo rol dos alunos com boa nota e melhor repuração junto à professora Kátia Rafikova, de quem vou receber uma carta de recomendação. Arrisquei por tudo a perder, com uma narrativa visual, apresentada na "formatura", para rir um pouco dos apuros desses três meses e, ufa, a história terminou em abraços e gargalhadas cossaco-tupiniquins.
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