Graças a um presente do Reginaldo Rosa, ao longo de 2012 revivi uma experiência mágica da minha infância que é retirar a página do dia da Folhinha do Sagrado Coração de Jesus, que os franciscanos reproduzem religiosamente deste não sei quando. Naquela época me sentia uma espécie de "senhor do tempo", prestando o serviço doméstico de estampar o nome, a cor, o número, a lua, o santo e um cento de outras informações que essa espécie de almanaque espreme em um minúsculo retângulo de papel ordinário, caprichosamente organizado. Nestes últimos meses, especialmente, desvelar a página nova assim que desmontava da cama me dava a sensação de tocar o tempo, imaterial por natureza.
Um detalhe da folhinha que me chama a atenção de modo particular é o balanço dos dias gastos e dos dias restante do ano em curso. Hoje, por exemplo, "-366/ + 0", ou seja, 2012 está nas últimas. Para minha desolação, amanhã não terei um pacote novinho na minha mesa, para curtir o "-1/ + 364". Não terei esse, mas já tenho outro rito, da mesma inspiração: com a mesma sistemática de "- dias vividos/ + dias a viver", tenho registrado no meu caderninho de notas uma sequência do meu ano particular de estágio aqui no Canadá.
Hoje, por exemplo, chego ao 107º dia nessas paragens, como quem chega a uma sexta-feira de semana extenuante. Nada a ver com o dia da semana e menos ainda com meu ritmo corrente de trabalho, dado que estou numa semana de vagabundagem. O "peso" de hoje deriva da saudade da magia que as passagens de ano da minha infância e adolescência costumavam ter. Nos tempos de vacas-gordas, no "dia-de-ano" envergava minha segunda melhor roupa nova, que perdia apenas para a roupa do "dia-de-reis" e era muito mais bonita do que a roupa "de-santa-cecília" e "do-natal". Essas quatro únicas roupas novas de cada ano seriam pouco usadas ao longo do ano novo, porque eram reservadas para acontecimentos especiais, como casamentos, batizados, enterros e outras "festas"...
Por mim, punha a roupa mais bonita já no ano novo, porque nada era mais emocionante do que o apagar das luzes de toda a cidade bem à meia-noite, iluminada por fogos, vivas, seguidos de cumprimentos entusiásticos dirigidos até a desconhecidos. A missa do galo e a procissão de "São-Bom-Jesus" não chegavam nem aos pés em rito, magia e inspiração. Já tive reveillon em Boa Viagem e em Copacabana, mas nada se compara àqueles de antigamente. Certeza que a passagem de logo mais será particularmente "chocha". E sempre me pelo de medo de que a "virada" seja um presságio do ano todo... Misericórdia!
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Obrigado por esse texto que passou pelo teu coração e agora passa pelo meu. É de ir junto em cada lugar onde os fatos aconteciam. Beijos
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