sábado, 3 de novembro de 2012

Matissando os espaços visuais


Uma queixa comum dos visitantes virtuais do meu quarto são as paredes imaculadas que dão ao espaço um ar de cela de presidio recém-inaugurado. Confesso que isso também me incomodava um pouco, menos ao vivo, mais quando via a minha própria imagem enquadrada pela câmera do computador nas conversas com o pessoal de casa... Mas não era assim um incômodo grande o suficiente para me fazer tomar uma providência, antes de 50 dias e dois museus. Ontem, finalmente, tomei coragem de gastar uns cinco dólares com cartolina e fita adesiva e hoje pela manhã, antes de lavar o rosto, sapequei uma obra de arte que vai me servir de cenário para as próximas conversas por skype, tendo ainda à frente da minha mesa de trabalho um painel com as sete fotos que trouxe de casa e que estavam guardadas no envelope até hoje.

A falta de iniciativa sobre o tema se deve a três fatores, os dois primeiros de ordem econômica: (a) O que poderia ser feito sem ter de pagar uma nova pintura do quarto na hora de mudar ou ir embora? (b) O que poderia ser uma boa solução estética e prática, considerando minha fraca desenvoltura no campo das artes visuais: pregar um pano colorido na parede? comprar uma gravura em um museu? comprar papel branco, tinta, pincel e fazer uma pintura? comprar um quadro de avisos e fixar coisas com tachinhas? encher a parede de texto, como a moça/rapaz de "A pele que habito?"... Antes de falar do terceiro fator, preciso dizer que a compra de cartolinas e fita adesiva deve-se, basicamente, ao documentario sobre o pintor francês Enri Matisse (1869-1954), que assisti na Winnipeg Art Gallery, empurrado definitivamente pela visita que fiz ontem ao Manitoba Museum. Cores básicas, nenhuma ordem pre-estabelecida, ampla possibilidade de ajustes e negociação com erros, sem nenhum dano à pintura da parede: era tudo o que eu queria e possivelmente daria conta de executar.

O terceiro fator retardante da minha incursão pelo mundo da arte e da decoração de interiores diz respeito ao meu processo psicológico/ mental/ existencial de instalação nesse novo espaço. Colocar um enfeite na parede tem um sentido de construção de casa, o que, no meu caso, nunca pode ser feito rapidamente, porque significaria um impossível desapego à minha própria casa, quase um desamor e uma traição; finalmente, a fixação de imagens no parede do meu quarto quer dizer também que os justificados receios iniciais foram atenuados e que estou medianamente seguro de que vou conseguir viver aqui o tempo planejado: isso, evidentemente, não poderia ser feito antes do kairós - hora certa, tempo oportuno.

3 comentários:

  1. E se tudo que vc conseguiu e ainda está conquistando não for suficiente para sua voracidade intelectual sabemos que você ainda vai poder ser um artista plástico.Amei!

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  2. Wal gostei pra caramba de sua improvisão artística. Bom gosto e uma leve sofisticação clean, quase a beleza simples da estética beneditina urbana.

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  3. Isso é mesmo obra tua? Conta a verdade? Fico imaginando o tanto que demorou escolhendo as cores, pensando, pensando... Pra cortar foi mais ligeiro, não foi? E que sorte ficou muito bom, modernoooso!

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